DA REDAÇÃO
POR WOLMAR CARREGOZI*
Com a facilidade proporcionada pelos planos de saúde as pessoas não têm se dado conta do perigo a que estão expostas quando resolvem fazer os seus “check ups”. É exame de tudo, uma verdadeira farra o que alguns fazem e, muitas vezes, pensando estar agindo corretamente, podem estar precipitando problemas de gravidade variável.
Se por um lado a disponibilidade dos benefícios dos planos de saúde ao seu alcance lhes confere um certo grau de tranquilidadede, por outro a falta de informação e objetividade nos exames solicitados pode lhes ocasionar sérias consequências à sua própria saúde e a de seus dependentes.
No quadro atual, o indivíduo vai ao dentista que, após o exame clínico determina que sejam realizadas três ou quatro radiografias. Ao sair dali vai até o ortopedista por um problema de dor no joelho, ao que o especialista já indica mais duas ou três chapas. Depois ainda tem aquela dor de cabeça frequente, que o leva até o neurologista que, por sua vez lhe indica uma tomografia computadorizada.
Em muitos casos, esta relação vai muito mais além, e o resultado é uma saraivada de radiação ionizante que poderia ser coordenada com mais sabedoria. A radiação, assim como o álcool, é uma faca de dois gumes. Ela traz inegáveis benefícios médicos: pode revelar problemas escondidos, que vão de ossos quebrados a lesões pulmonares, problemas cardíacos e tumores. Além disso, ela pode ser utilizada para tratar e, às vezes, para curar o câncer.
Porém, a radiação tem uma grave desvantagem: sua capacidade de corromper o DNA e, 10 ou 20 anos mais tarde, causar um câncer. As tomografias expõem três quartos dos americanos a uma radiação de 100 a 500 vezes maior do que a de um exame de raios X normal e acredita-se que seja responsável por 1,5% de todos os casos de câncer dos Estados Unidos.
Reconhecer o perigo envolvido no aumento do número de exames radiológicos levou inúmeros especialistas a exigir mais parcimônia antes de pedir exames por imagem. Houve um aumento no volume de todos os tipos de exames de imagem, mas as tomografias respondem pela maior parte. Esse tipo de exame está sendo pedido em excesso. Todos os anos, mais de 10% dos pacientes estão sendo expostos a doses altíssimas de radiação ionizante.
O segredo para utilizar a radiação médica da forma apropriada seria balancear os riscos potenciais e os benefícios conhecidos. Entretanto, esses riscos não são levados em conta. As consequências incluem custos médicos desnecessários e riscos para a saúde. Tanto os médicos quanto os pacientes têm a responsabilidade de compreender melhor os benefícios e os riscos e considerá-los cuidadosamente antes que os pacientes sejam submetidos a um procedimento radioativo.
Embora os efeitos radioativos que causam o câncer sejam cumulativos, ninguém calcula o volume de radiação ao qual os pacientes foram expostos antes que o médico peça um novo exame. Além disso, um câncer causado pela exposição à radiação só apareceria depois de muitos anos e não poderia ser facilmente ligado a procedimentos feitos no passado.
As auditorias dos planos de saúde frequentemente são criticadas, mas, a preocupação não recai apenas sobre a questão de custos e gastos desnecessários, passa também pela preservação da vida dos seus usuários.
Portanto, mesmo diante da facilidade que se coloca diante dos usuários de planos de saúde, de terem acesso a exames de alta complexidade, às vezes até sem muita burocracia, o bom senso deve prevalecer para que a estatística de perdas de vidas preciosas possa ser reduzida.
*WOLMAR CARREGOZI é ginecologista, obstetra, clínico geral e médico do trabalho (coordenador do PCMSO da INB-Indústrias Nucleares do Brasil (URA-Caetité-BA), coordenador do PCMSO da Indústria de Cimento Nassau – Itaguarana, Ituaçu-BA)